Retrognatismo: O Que Você Precisa Saber [por especialista]

Você já se olhou no espelho e achou que o seu queixo é pequeno ou curto? Ou acha que o seu queixo é para trás? Então você pode estar sofrendo de retrognatismo!

O retrognatismo é o desencontro das arcadas dentárias, ou seja, é quando o maxilar superior não recobre os dentes inferiores.

O resultado, esteticamente, é justamente um queixo mais curto ou para trás.

Mas há também consequências na saúde, como problemas na fala, dificuldades para mastigar e disfunções da ATM.

Para ter certeza do seu caso, é importante fazer um diagnóstico do retrognatismo e iniciar o tratamento.

E como sabemos que é difícil achar informações confiáveis e completas sobre esse assunto, separamos esse artigo.

Aqui, explicamos tudo que você precisa saber sobre o retrognatismo com uma linguagem fácil de entender e bem exemplificada.

Siga a leitura e aprenda sobre esse tema.

O que significa retrognatismo?

Para entender melhor o que significa retrognatismo, podemos começar com a etimologia da palavra.

Se trata da combinação de duas palavras (retro + gnathos). Retro significa “para trás” e gnathos é um termo grego que significa “maxilares”.

Então, em tradução direta, seria “maxilares para trás”.

E é justamente disso que se trata essa condição. Ela ocorre quando o maxilar inferior fica mais para trás que o superior.

Isso resulta em uma sobremordida e fica muito perceptível quando se fica de lado.

Nesses casos, é  importante sabermos que temos dois ossos chamados de “maxilares”, a mandíbula e a maxila.

A maxila é onde estão os dentes de cima e a mandíbula é onde estão os dentes de baixo. 

Grave bem e entenda esses dois nomes, pois vamos usá-los várias vezes ao longo do texto.

osso da maxila e mandíbula
Osso da mandíbula (verde) e maxila (roxo)

Como o retrognatismo está relacionado a esses dois ossos, podemos ter casos de: 

  • Retrognatismo da mandíbula (mandíbula para trás)
  • Retrognatismo da maxila (maxila para trás)
  • Em alguns casos dos dois ossos, retrognatismo maxilomandidular ou bi-retruso (maxila e mandíbula para trás).

Entretanto, na internet só se fala do retrognatismo mandibular e deve ser por esse motivo que você está aqui. Por isso, vamos conversar apenas sobre esse tipo de retrognatismo hoje.

O que é retrognatismo mandibular?

A posição normal entre o osso da maxila e da mandíbula frequentemente é observada pela forma de encaixe dos dentes.

Quando temos um encaixe perfeito dos dentes, os superiores “cobrem” levemente os inferiores, como se fosse uma caixa de sapato, sendo o superior a tampa e o inferior a caixa.

mordida correta
Mordida correta

No retrognatismo mandibular, a parte inferior está muito atrás em relação a parte superior. Dando a impressão de uma pessoa com queixo pequeno.

mulher com retrognatismo mandibular vista de perfil
Mordida de classe 2

Quais outros nomes do retrognatismo mandibular?

Outros nomes que essa alteração pode ter são: perfil classe II, deficiência mandibular, retrognata ou perfil facial convexo. Na internet é comum vermos outros termos que ficaram populares, como queixo curto, queixo pequeno, queixo para trás ou classe 2.

Diferença entre retrognatismo e prognatismo?

Assim como retrognatismo se refere aos maxilares para trás, o prognatismo é o inverso e significa “maxilares para frente”.

Quais as causas do retrognatismo mandibular?

Normalmente é causado pela falta de crescimento mandibular, que pode envolver todo o osso da mandíbula ou em alguns casos só a região do queixo.

Essas alterações no crescimento ainda não são totalmente explicadas pela ciência, mas acredita-se que fatores genéticos (“ou seja, que passa de geração para geração na família”) estejam relacionados.

– Quer dizer que se eu sou retrognata, meu filho também vai ser?

É possível, mas não é certeza. Assim como você pode não ser retrognata, e seu filho sim, por ter adquirido essa característica de algum outro familiar que seja.

Como saber se tenho retrognatismo? 

Para saber se você tem retrognatismo, o primeiro passo é buscar por um cirurgião bucomaxilofacial.

É ele que te dará o diagnóstico correto e irá fazer o encaminhamento para o tratamento.

Alguns pontos podem te fazer levantar a suspeita sobre a condição para ir em busca de um profissional.

O primeiro deles diz respeito a dificuldade em mastigar alimentos, morder e dormir.

Pode ocorrer também de você sentir muita dor na mandíbula, por conta do desalinhamento dela.

Outro fator é ter os dentes amontoados na boca ou mal posicionados.

Por fim, há também a questão da dificuldade em respirar, principalmente no momento de dormir, causando roncos e apneia do sono.

Em casos de bebês com retrognatismo, eles têm dificuldades em usar a mamadeira e também não conseguem pegar o mamilo durante a amamentação.

Em qualquer uma dessas situações, nós reforçamos que é preciso ir em busca de um diagnóstico com um profissional.

Quais as características do retrognata?

A primeira vista o que mais chama atenção é a “falta de queixo”, que geralmente é o motivo das pessoas procurarem tratamento.

Esse queixo pequeno da ao perfil facial um aspecto convexo, como se fosse a parte externa de uma colher.

Comumente os prognatas se queixam do excesso de nariz, que na maioria das vezes é uma falsa impressão devido o perfil com queixo para trás.

Outro motivo comum que faz as pessoas procurarem atendimento é a dificuldade para dormir, pois quem tem esse perfil facial tem maior tendência a desenvolver o que chamamos Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono ou simplesmente chamada Apneia do Sono.

Enquanto que problemas relacionados a mastigação podem variar de um encaixe incorreto dos dentes (os inferiores bem mais para trás do que o normal) até alterações na articulação temporomandibular (ATM), como dores a frente do ouvido, estalidos ou ruído articular.

Vale lembrar que esse perfil facial tem maior tendência a desenvolver disfunção nessa articulação (DTM).

Não confunda ATM com DTM. Pois o primeiro termo se refere ao nome da articulação e o segundo ao problema.

ATM = articulação temporomandibular

DTM = disfunção temporomandibular

Consequências do retrognatismo

Uma das principais consequências do retrognatismo é o impacto que ele causa na aparência.

A harmonia no rosto é impactada por conta do mau encaixe das arcadas, geralmente levando o queixo mais para trás.

Ainda esteticamente, é comum que o retrognatismo acumule tecidos moles no pescoço, os transformando em o que chamamos de papada.

No que diz respeito à saúde, a condição leva o indivíduo a ter dificuldades em respirar, falar e mastigar. 

Por fim, a disfunção da ATM (articulação temporomandibular) também é uma das consequências negativas à saúde quando falamos em retrognatismo.

Aqui, o encaixe inadequado das arcadas levam ao mau funcionamento delas, ao desgaste dos dentes, dores severas e espasmos musculares.

Quais os tipos de retrognatismo mandibular?

Basicamente existem dois tipos de retrognatismo, o retrognatismo mandibular verdadeiro e o retrognatismo mandibular relativo.

Retrognatismo mandibular verdadeiro

O retrognatismo mandibular verdadeiro está relacionado a deficiência de crescimento da mandíbula.

Nele, a maxila fica posicionada com a mandíbula para frente ou protruída.

Retrognatismo mandibular relativo

No caso do retrognatismo mandibular relativo, ele está frequentemente relacionado ao crescimento excessivo da maxila.

Nele, há o falso aspecto de que o problema está na mandíbula.

Como diagnosticar o retrognatismo mandibular?

O diagnóstico é feito clinicamente (avaliação visual), onde é observando todas essas características que citei anteriormente.

Contudo, em alguns casos é importante avaliação radiográfica (raio-x) para o diagnóstico de outras alterações comuns nesse perfil facial, como a DTM.

Qual o tratamento do retrognatismo mandibular?

O tratamento do retrognatismo mandibular depende da severidade do problema e dos desejos do paciente relacionados ao resultado.

Em casos leves pode ser realizado o tratamento com aparelho ortodôntico seguido de uma cirurgia apenas no queixo, chamada de mentoplastia.

Enquanto que nos casos mais severos é necessário a realização de uma cirurgia ortognática mais extensa, que pode envolver a operação da maxila além da mandíbula, para obter uma melhor harmonia facial. Entretanto, a necessidade de operar a maxila em algumas situações pode depender das queixas estéticas do paciente, não sendo obrigatório.

Em ambos os casos as cirurgias são realizadas por dentro da boca, ficando imperceptível qualquer cicatriz.

Como resolver o retrognatismo?

Para resolver o retrognatismo, o paciente passa por algumas fases. 

A primeira consiste em fazer uma consulta com um ortodontista e um cirurgião bucomaxilofacial.

A partir de então começa o tratamento ortodôntico, com uma correção que posiciona os dentes nos maxilares.

Depois, com os resultados dessa primeira fase, começa o planejamento da cirurgia ortognática.

Aqui se faz a correção do posicionamento dos ossos maxilares.

A depender do diagnóstico do paciente, ela pode ser feita no maxilar superior, na mandíbula ou nos dois ossos.

A função da cirurgia ortognática é melhorar as funções respiratória e articular, levar ao equilíbrio funcional mastigatório e harmonizar a face.

Todo procedimento dessa cirurgia é feito com anestesia geral e em ambiente hospitalar.

Geralmente a alta da cirurgia ortognática ocorre 24h após seu encerramento.

O que é a cirurgia ortognática?

Esse procedimento tem o principal objetivo de encaixar corretamente os dentes e corrigir a posição dos ossos da maxila e mandíbula para uma posição mais harmônica na face. Por isso, é definida como uma cirurgia estético-funcional, pois além de corrigir a mordida, também promove melhora da estética facial.

Em um outro artigo, eu escrevi sobre as 5 maiores dúvidas sobre cirurgia ortognática, é só você clicar aqui para conferir.

Vantagens da cirurgia ortognática

As vantagens da cirurgia ortognática refletem diretamente na melhora da mordida e estética do rosto. 

Mas algumas outras de suas vantagens também dizem respeito a respiração, autoestima e articulação.

Abaixo, fique por dentro de todas as vantagens da cirurgia ortognática:

Melhora da autoestima

Os desvios na mandíbula costumam causar descontentamentos estéticos.

Então, essa cirurgia vem para aumentar a autoestima nesse sentido, ao melhorar a simetria do rosto do paciente.

Assim, o reposicionamento ósseo leva a um rosto equilibrado e mais harmônico, logo, a uma satisfação maior com a aparência.

Impacto positivo no emocional

Insatisfações estéticas também levam à baixa autoestima e geram riscos emocionais graves.

Um emocional abalado, por exemplo, pode levar uma pessoa a se isolar socialmente e entrar em depressão.

Então, a cirurgia ortognática, quando é feita para melhorar a estética do paciente, permite que ele melhore o relacionamento com sua imagem.

O resultado reflete diretamente no emocional, permitindo que haja uma redescoberta e mais autoaceitação.

Harmonia facial

Ainda falando de fatores estéticos, a cirurgia ortognática traz vantagens à harmonia do rosto.

Ao corrigir os dentes na base óssea, ela os posiciona sem deixar cicatrizes externas e visíveis.

O resultado é um rosto mais simétrico e com melhores contornos, principalmente na região do queixo.

Melhora na respiração

A reposição de ossos que essa cirurgia faz desobstrui as vias respiratórias.

Então, há uma melhora na qualidade da respiração pelo nariz.

A apneia do sono é um exemplo de doença respiratória que pode ser solucionada com a cirurgia ortognática.

Isso porque a maioria dos casos de apneia obstrutiva do sono acontecem por conta do crescimento excessivo dos ossos do rosto.

Mastigação e digestão melhoradas

O desequilíbrio dos músculos faciais e as dores na mandíbula são resultados de um mau posicionamento ósseo.

Isso tudo, ao longo da vida, compromete a mastigação do paciente.

Então, a rotina de morder alimentos acaba se tornando mais difícil.

E os resultados de uma mastigação deficiente refletem diretamente no organismo, afetando a digestão.

Mas com a cirurgia ortognática, os erros na mordida podem ser consertados e essas dificuldades são eliminadas.

Vantagens para articulação da fala

As  irregularidades na mandíbula e maxilar podem afetar diretamente a fala e a comunicação do indivíduo.

Isso ocorre pois o mau posicionamento da musculatura afeta diretamente os órgãos que produzem a fala.

Mas quando é feita a cirurgia ortognática, é desenvolvida a extensão vocal ao reposicionar o maxilar.

Assim, a voz e fala são melhorados por conta da harmonia das cavidades nasal e oral.

Melhora das dores musculares e articulares da ATM (articulação temporomandibular)

A articulação temporomandibular é o que chamamos de ATM. E ela é que liga o maxilar inferior com o rosto temporal do crânio.

Além do mais, é ela que possibilita nossa fala e mastigação.

Difusões nessa região causam dores no rosto e cefaleias ao fazer os movimentos mandibulares.

Aqui, a cirurgia ortognática é recomendada quando os tratamentos ortodônticos não apresentam resultados satisfatórios.

Para quem é indicada a cirurgia ortognática?

Por corrigir a posição da maxila e da mandíbula, esse procedimento é indicado para uma série de alterações que ocorrem nos ossos da face, como por exemplo o retrognatismo e o prognatismo mandibular.

Como saber se preciso fazer a cirurgia ortognática?

A cirurgia ortognática é indicada em casos de:

  • Queixo muito grande ou pra frente;
  • Queixo muito pequeno ou pra trás;
  • Dentes que não se encaixam adequadamente ao moder;
  • Dificuldades na mastigação;
  • Dentes que não tocam na frente;
  • Lábios que não se fecham sem forçar;
  • Ronco;
  • Rosto torto;
  • Dores nas articulações da mandíbula;
  • Noites de sono mal dormidas;
  • Dor de cabeça;
  • Dor de ouvido;
  • Insatisfação com a harmonia da face;
  • Gengiva muito exposta ao sorrir.

Onde é realizado?

A cirurgia é realizada em ambiente hospitalar, sob anestesia geral.

Como é realizado?

São realizados cortes nos ossos da mandíbula e da maxila por dentro da boca. Esses ossos são posicionados no lugar planejado e são fixados por placas e parafusos, para que não sejam movimentados até ocorrer a cicatrização.

Logo abaixo está um dos casos que realizamos para corrigir o retrognatismo mandibular, também chamado na internet de classe II ou 2.

Antes e depois da cirurgia ortognática classe 2

retrognatismo mandibular

Conclusão

Com esse artigo, você aprendeu que o retrognatismo causa alterações na mordida e interfere no encaixe dos dentes.

Por conta dessa condição, os dentes inferiores se sobrepõem aos de cima e causam uma desarmonia facial.

Além disso, o retrognatismo interfere na fala e respiração do indivíduo, pois não há um posicionamento correto da língua e dos lábios.

Tudo isso sobrecarrega a estrutura dentária e pode levar a problemas na articulação temporomandibular (ATM).

Então, se você está buscando pelo tratamento do retrognatismo, o ideal é conversar com um médico de confiança para entender seu caso e avaliar o melhor tratamento.

E se você está à procura de um especialista que possa te dar uma avaliação mais detalhada da sua condição, te aguardo aqui na clínica para conversarmos melhor sobre o assunto.

Forte abraço,

Dr. Icaro Guilherme – Cirurgião Bucomaxilofacial pela Universidade de São Paulo (USP)

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SOBRE O AUTOR

Dr. Ícaro Guilherme

Sou Icaro Guilherme, cirurgião bucomaxilofacial especialista pela Universidade de São Paulo (USP – SP). Realizei residência na área pelo Hospital Universitário da USP durante 3 anos e em quase 9 mil horas tive a oportunidade de aprender com grandes nomes da cirurgia nacional e internacional.

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